Se a lei é contra mim, vamos ter que mudar a lei”
Assis Chateaubriand
Assis Chateaubriand, também conhecido como Chatô, foi um renomado jornalista, escritor, advogado, professor de direito, empresário, mecenas e político brasileiro, que se destacou como uma das figuras públicas mais influentes do Brasil entre as décadas de 1940 e 1960. Ele era membro da Academia Brasileira de Letras.
Como magnata das comunicações no Brasil, Chateaubriand era o dono dos Diários Associados, que foi o maior conglomerado de mídia da América Latina, com mais de cem jornais, emissoras de rádio e TV, revistas e agência telegráfica. Ele também é conhecido por ter fundado, em 1947, o Museu de Arte de São Paulo (MASP) e por ser o responsável pela introdução da televisão no Brasil, inaugurando a primeira emissora de TV do país, a TV Tupi, em 1950.
Além disso, ele foi Senador da República entre 1952 e 1957. No entanto, sua figura é polêmica e controvertida, sendo frequentemente criticado por supostas faltas de ética, como chantagear empresas que não anunciavam em seus veículos e insultar empresários com mentiras. Muitos acusam sua fortuna de ser construída com base em interesses políticos e compromissos com o então Presidente Getúlio Vargas.
Biografia de Assis Chateaubriand “Chatô”
Infância e primeiros anos
Assis Chateaubriand era filho de Francisco José Bandeira de Melo e Maria Carmem Guedes Gondim. Ele foi batizado com o nome Francisco de Assis em homenagem ao santo, pois nasceu no dia dedicado a ele e sua mãe era devota. O sobrenome “Chateaubriand” tem origem na admiração de seu pai pelo poeta e pensador francês François-René de Chateaubriand, que foi tão grande que ele comprou uma escola na região de São João do Cariri e a batizou com o nome do pensador francês. Como resultado, Francisco José passou a ser conhecido como “José Chateaubriand” e esse nome foi passado para seus filhos.
Chateaubriand se casou uma vez com Maria Henriqueta Barroso do Amaral, com quem teve três filhos: Fernando, Gilberto e Teresa. Em 1934, ele se separou e teve uma relação com uma jovem chamada Corita, com quem teve uma filha chamada Teresa. Chatô sequestrou a própria filha, assumiu a paternidade e, com o apoio de Getúlio Vargas, obteve o pátrio poder. Suas relações com seus filhos, especialmente com Gilberto Chateaubriand, foram conturbadas e repletas de conflitos e separações radicais.
Carreira
Assis Chateaubriand nasceu na Paraíba e se formou pela Faculdade de Direito do Recife. Ele começou sua carreira no jornalismo aos 15 anos, escrevendo para o Jornal Pequeno e o Diario de Pernambuco. Em 1917, ele se mudou para o Rio de Janeiro e começou a colaborar com o Correio da Manhã, onde publicou impressões de sua viagem à Europa em 1920. Nessa época, ele também foi correspondente do La Nacion, de Buenos Aires.
Em 1924, Chateaubriand assumiu a direção do jornal O Jornal e, com o apoio financeiro de alguns “barões do café” como Carlos Leôncio de Magalhães e Percival Farquhar, conseguiu comprá-lo no mesmo ano. Ele começou a transformar o jornal, incluindo reportagens instigantes em vez de artigos monótonos, e o sucesso foi imediato. A partir daí, ele começou a construir um império jornalístico, adicionando jornais importantes como o Diário de Pernambuco e o Jornal do Commercio. Em 1925, ele também adquiriu o Diário da Noite, de São Paulo.
A ascensão de Chateaubriand no jornalismo deve ser vista no contexto das transformações políticas do Brasil nas décadas de 1920 e 1930. Ele apoiou e participou do movimento revolucionário de 1930 que levou Getúlio Vargas ao poder. No entanto, sua ética era questionável e ele frequentemente chantageava empresas que não anunciavam em seus veículos e publicava poesias de seus maiores anunciantes. Ele também tinha inimigos declarados, como Rui Barbosa e Rubem Braga. Apesar disso, ele manteve relações próximas com o governo e ajudou a trazer a televisão para o Brasil, inaugurando a primeira emissora de TV do país, a TV Tupi, em 1950.
Em 1938, Chateaubriand foi condecorado pelo Governo do Chile com a Comenda da “Ordem do Mérito”. Durante o Estado Novo, ele conseguiu de Getúlio Vargas a promulgação de um decreto que lhe dava direito à guarda de uma filha, após a separação da mulher. Nesse episódio, ele proferiu uma frase célebre: “Se a lei é contra mim, vamos ter que mudar a lei”. Em 1952, ele foi eleito senador pela Paraíba e, em 1955, pelo Maranhão, em duas eleições escandalosamente fraudulentas.
Chateaubriand era conhecido por suas posturas pró-capital estrangeiro e pró-imperialismo, primeiro o britânico, depois o americano. Ele era muito ligado aos interesses da City londrina e conta-se que ele teria uma vez dito que o Brasil, perante os EUA, estava na condição de uma “mulata sestrosa” que tinha de aceder às vontades do seu gigolô. Ele também era temido pelas campanhas jornalísticas que movia, como a em defesa do capital estrangeiro e contra a criação da Petrobrás.
Chateaubriand sempre buscou adquirir novas tecnologias para os Diários Associados. Ele foi o primeiro e único a possuir uma máquina Multicolor, a mais moderna máquina rotativa da época na América Latina. Ele também investiu em serviços fotográficos da Wide World Photo, que possibilitava a transmissão de fotos do exterior com uma rapidez maior do que qualquer outro veículo nacional. Ele também teve grandes contratos de exclusividade para lançamento de produtos com a General Electric e para o pó achocolatado Toddy, cujos anúncios estavam sempre nas páginas dos jornais e revistas. Com essa orientação publicitária, os jornais dos Diários Associados passaram a anunciar os mais diversos produtos e serviços, desde moda até cheques bancários, algo inédito na década de 1930 no Brasil.
Chateaubriand também publicou mais de 11 870 artigos assinados nos jornais, dando oportunidades a escritores e artistas desconhecidos que depois se tornariam grandes nomes da literatura, do jornalismo e da pintura, como Graça Aranha, Millôr Fernandes, Anita Malfatti, Di Cavalcanti e Cândido Portinari.
Assis Chateaubriand foi uma figura influente na sociedade brasileira nas décadas de 1940 e 1950. Ele fundou e dirigiu a maior cadeia de imprensa do país, os Diários Associados, que incluía 34 jornais, 36 emissoras de rádio, 18 estações de televisão, uma agência de notícias, uma revista semanal e uma editora. Ele deixou os Diários Associados para um grupo de funcionários, atualmente liderado por Álvaro Teixeira da Costa, que é agora o terceiro maior grupo de comunicações do país. Ele também foi agraciado com o grau de Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo, de Portugal em abril de 1960.
Em abril de 1968, Assis Chateaubriand faleceu devido a uma trombose, após uma longa batalha contra a doença. Mesmo impossibilitado de falar e com paralisia, ele continuou a escrever até o fim. Ele foi velado ao lado de pinturas de Ticiano e Renoir, simbolizando as três coisas que mais amou na vida: o poder, a arte e as mulheres. Seu funeral foi prestigiado por mais de 60 mil pessoas e ele foi sepultado no Cemitério do Araçá.